A Universidade de São Paulo (USP) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) assinaram uma carta de apoio que prevê investimentos de R$ 10 milhões em pesquisa para o desenvolvimento de órgãos compatíveis para transplante. Cada um investirá metade do valor para o custeio de instalação de nível de biossegurança 2 para criação de suínos em condições sanitárias adequadas para a produção de órgãos compatíveis para o transplante em humanos.
Xenotransplante é o termo técnico que define o transplante de órgãos entre espécies diferentes. Nesse caso, serão utilizados suínos geneticamente modificados com potencial para evitar a rejeição imunológica hiperaguda do receptor humano. Os suínos são considerados os melhores candidatos e doadores universais, por possuírem fisiologia semelhante, órgãos com peso e medidas compatíveis, manuseio de baixo custo, curto período de gestação e ninhadas numerosas. Rins, coração e pele são os principais órgãos de interesse.
Segundo informações da USP, a iniciativa é única na América Latina voltada à pesquisa de produção de órgãos em animais para transplante em humanos, e o projeto para modificar geneticamente suínos para se constituírem em doadores de rim, coração, pele e córnea, já existe há 5 anos. A fase de edição genética já está concluída, o que permite a produção dos primeiros embriões modificados, que serão transferidos para matrizes silvestres, produzindo os primeiros doadores.
“O xenotransplante é um avanço. Nos últimos 20 anos, foram realizados 2 milhões de transplantes no mundo. Houve um aumento de demanda, mas não houve aumento proporcional da disponibilidade de órgãos. Então, há uma demanda reprimida, muitos morrem à espera de órgãos e os de suínos se mostraram os substitutos mais adequados. Os recursos permitirão a construção do biotério no prazo de 6 meses para o início das experiências pré-clínicas”, disse o coordenador do projeto, professor Silvano Mario Attilio Raia.
Segundo o MCTI, o suíno é uma alternativa para atender a demanda crescente por órgãos para transplante, ocasionada pelo aumento da idade média da população e pelo aperfeiçoamento dos medicamentos imunossupressores, entre outros fatores.
O secretário de Pesquisa e Formação Científica do MCTI, Marcelo Marcos Morales, afirmou que o xenotransplante se apresenta como uma alternativa promissora para o enfrentamento desse desafio, que causa sofrimento para os pacientes e suas famílias, além de gastos expressivos para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Espera-se que as pesquisas gerem conhecimentos que, a longo prazo, permitam a realização de xenotransplantes em território nacional, via Sistema Único de Saúde, promovendo acesso à população brasileira de tecnologia de ponta desenvolvida nacionalmente. Espera-se ainda que o desenvolvimento da técnica de xenotransplante e demais tecnologias associadas fomente o Complexo Industrial da Saúde brasileiro, trazendo desenvolvimento econômico e social para o país.
O Brasil é o segundo no mundo, em números absolutos, na realização do procedimento, atrás dos Estados Unidos, e cerca de 80% dos transplantes são realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mesmo assim, a fila de espera por órgãos é crescente. De acordo com dados do Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, até julho de 2022, cerca de 59 mil pessoas estavam na fila para transplantes no Brasil. A maior parte aguarda por rins e córneas.
Fonte: Agência Brasil