A terceira fase da Operação Overclean, deflagrada na última quinta-feira (3/4), trouxe à tona indícios de que o empresário José Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, exerceu influência direta na escolha de secretários na Prefeitura de Belo Horizonte (MG). Apontado como um dos principais articuladores de um esquema milionário de desvios em contratos públicos, Moura teria negociado nomeações com o então prefeito da capital mineira, Fuad Noman, falecido em março deste ano.
De acordo com documentos obtidos pela Polícia Federal, conversas via WhatsApp entre o empresário e Fuad mostram tratativas sobre a formação do secretariado da nova gestão após as eleições municipais de 2024. Inicialmente, Fuad teria oferecido a Moura as pastas de Combate à Fome e de Mobilidade Social, mas o empresário insistiu pela Secretaria de Educação, posteriormente ocupada por Bruno Barral — ex-secretário em Salvador e ligado a lideranças do União Brasil, como ACM Neto e Antônio Rueda.
Na decisão que autorizou o afastamento de Barral do cargo, o ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), destacou a possível atuação da organização criminosa no âmbito da administração municipal. A indicação de Barral teria sido resultado direto das articulações do grupo investigado.
A Operação Overclean, que agora tramita no STF, investiga fraudes em licitações e desvios de recursos federais, especialmente por meio de emendas parlamentares. Uma das empresas ligadas ao esquema, a Allpha Pavimentações, firmou contratos que somam mais de R$ 150 milhões entre 2021 e 2024, sendo R$ 67 milhões provenientes do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).
A ofensiva policial teve início após a apreensão de documentos em um avião que transportava o empresário Alex Parente e o ex-chefe do DNOCS na Bahia, Lucas Maciel Lobão Vieira. A chamada “contabilidade paralela” encontrada pela PF deu origem à primeira fase da operação, em dezembro de 2024. Desde então, a investigação se expandiu para revelar um complexo esquema envolvendo órgãos federais, estaduais e municipais.
Com o avanço das apurações, a PF identificou ainda possíveis ligações do deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil) com o grupo, o que motivou o envio do caso ao Supremo.
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que Bruno Barral foi exonerado do cargo na mesma data da operação. Já a defesa de José Marcos Moura não respondeu aos pedidos de posicionamento até o fechamento desta edição.