A disputa política dentro da federação União Progressista, que reúne União Brasil e Progressistas (PP), ganhou novos capítulos neste domingo (5/10), após declarações incisivas do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), contra o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI).
Pré-candidato à Presidência da República em 2026, Caiado acusou Ciro de tentar interferir na decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre quem deve representar o campo da direita na próxima disputa presidencial. Segundo o goiano, o senador busca forçar um apoio de Bolsonaro ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), com o interesse pessoal de ser indicado como vice em uma eventual chapa.
“A ansiedade de Ciro Nogueira em se colocar como candidato a vice-presidente do governador Tarcísio é vergonhosa. Ele tenta se passar por porta-voz de Bolsonaro, o que ele não é”, afirmou Caiado nas redes sociais.
O governador também ironizou o ex-ministro da Casa Civil, dizendo que se o ex-presidente quisesse um porta-voz, escolheria “um de seus filhos ou a esposa, Michelle Bolsonaro”. Caiado ainda chamou o senador de “inexpressivo” e lembrou que ele “já declarou apoio ao presidente Lula no passado”.
As críticas foram uma reação à entrevista concedida por Ciro ao jornal O Globo, na qual o senador afirmou que Bolsonaro teria apenas duas alternativas viáveis de apoio em 2026: Tarcísio de Freitas ou Ratinho Júnior (PSD-PR). Para Caiado, o gesto representa uma tentativa de “limitar o debate democrático” e “impor nomes à força”.
“De pronto, Ciro já veta pelo menos três pré-candidaturas: as de Romeu Zema, Eduardo Bolsonaro e a minha. Presta um enorme desserviço à direita”, escreveu o governador.
Caiado reforça autonomia e cita popularidade
O governador goiano destacou que não depende de aval político para manter sua pré-candidatura e ressaltou seu histórico de apoio a Bolsonaro desde 2018, quando “muitos ainda resistiam” ao então candidato. Caiado também fez questão de lembrar sua alta aprovação popular em Goiás, que chega a 88%, segundo pesquisas recentes.
“Lembro ao Ciro que tenho 88% de aprovação em Goiás nos últimos três anos, a maior entre os governadores. Já ele não tem força nem para se reeleger senador no Piauí”, provocou.
Caiado finalizou suas declarações pedindo moderação ao presidente do PP.
“Sugiro ao já quase ex-senador que tenha mais respeito com os demais nomes da direita. Ele não tem estatura política para julgar candidaturas a presidente, muito menos a minha”, completou.
Federação em clima de tensão
A troca de críticas ocorre em meio ao início da federação entre União Brasil e Progressistas, que prevê uma atuação conjunta das legendas por, no mínimo, quatro anos. O acordo buscava consolidar um projeto de direita com identidade política definida, mas a disputa interna entre Caiado e Ciro revela dificuldades de convivência entre os principais líderes da aliança.
Com Tarcísio de Freitas recuando e indicando que deve disputar a reeleição em São Paulo, o campo conservador ainda não definiu seu nome principal para 2026. Além de Caiado, aparecem como possíveis candidatos Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR), Eduardo Leite (PSD-RS) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Para Caiado, a escolha deve ser construída “de forma democrática e sem imposições”, com o objetivo comum de “fortalecer a direita e apresentar um novo projeto de país”.
“Certamente não será Ciro Nogueira quem decidirá o futuro da direita brasileira”, concluiu o governador.