No pequeno, porém próspero, pedaço de terra, um verdadeiro oásis se ergue no coração de Ceilândia. Hortaliças viçosas, ervas medicinais, um pé de banana, um mamoeiro carregado, a doce cana-de-açúcar, limões e plantas ornamentais embelezam o local — esta é a horta do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) de Ceilândia, unidade gerida pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes).
“A ideia é, também, fortalecer o vínculo com a instituição porque muitos desses usuários não têm celular, o que dificulta a comunicação, onde a partir do projeto da horta eles acabam tendo um dia e hora marcados para vir ao Creas. Assim, conhecemos melhor a vida dessas pessoas”
Roberto Lopes Homrich, especialista em Direito e organizador da iniciativa
Toda quarta-feira pela manhã o espaço se transforma em um refúgio, onde pessoas em situação de rua, ou em processo de saída dessa condição, cuidam do solo fértil. Mais do que apenas cultivar alimentos, a iniciativa faz parte de um projeto mais desenvolvido pela unidade socioassistencial: fortalecer o vínculo e a autoestima desse público atendido.
Implementada em 2021, a medida ainda busca reduzir danos causados pela situação de rua, promover autoestima e criar sessões de conversas entre os participantes.
“A ideia é, também, fortalecer o vínculo com a instituição”, pontua Roberto Lopes Homrich, especialista em direito e organizador da iniciativa. “Muitos desses usuários não têm celular, o que dificulta a comunicação, onde a partir do projeto da horta eles acabam tendo um dia e hora marcados para vir ao Creas. Assim, conhecemos melhor a vida dessas pessoas”, completa.
Com isso, ressalta Roberto, a medida evita desencontros que causavam frustrações, além estimular um diálogo mais horizontal, fluido e humanizado entre especialistas e acompanhados.
Uma das participantes da horta é Selma Silva, 54 anos, moradora de Ceilândia e assistida pelo Creas da região há dez anos. “É um projeto muito legal, onde a gente mexe com a terra, capina e tira o mato em excesso”, conta. “Nisso, a gente acaba fazendo amizades e conhecendo melhor o pessoal da comunidade”, acrescenta.
A participação na horta comunitária também é aberta à comunidade, independente de utilizar ou não as ruas como espaço de moradia.
“O trabalho realizado na unidade está alinhado às iniciativas do Governo do Distrito Federal (GDF) em promover maior inclusão e dignidade à população em situação de rua”, destaca a secretária de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra.
“É preciso compreender que a situação de rua vai além da ausência de moradia. Esse público também necessita de saúde, educação, segurança, entre outros direitos básicos, sobretudo humanidade, como promove a ação do Creas Ceilândia”, completa.
O papel do Creas
Diferentemente do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), que trabalha com prevenção, o Creas atua quando as pessoas ou famílias já tiveram seus direitos violados. Seu objetivo é auxiliá-las a superar os danos causados pela violação de direitos, como violências, maus-tratos ou negligência familiar de adultos, crianças e idosos, por exemplo.
A unidade oferece acompanhamento especializado com profissionais por meio de escuta qualificada, atendimento emergencial e continuado. Ali são feitos encaminhamentos para serviços de saúde, educação, segurança, moradia, entre outros, além de incluir famílias em programas e benefícios socioassistenciais.
O atendimento ocorre direto na unidade, onde, primeiramente, é avaliada a situação de risco social do usuário, ou por encaminhamento de outros órgãos. Dependendo da situação, as famílias são agendadas para acompanhamento periódico com especialistas.
O Distrito Federal possui 13 Creas organizados por territórios, incluindo o Creas da Diversidade, voltado especificamente para atender situações de discriminação por orientação sexual, identidade de gênero, raça, etnia ou religiosidade.
*Com informações da Sedes
Fonte: Agência Brasília