O sonho de ser mãe é, cada vez mais, adiado pelas mulheres brasileiras e chegou ao cronograma dos 40+. A idade média da primeira gestação no Brasil é de 27 anos, conforme o Censo de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)*. Faixa etária que vem subindo nas últimas décadas, já que em 2000 a pesquisa apontava para 25 anos. Estimativas antecipam que para 2040 a idade média da primeira gravidez seja de 30 anos. Mas, o que tem contribuído para esse cenário? Quais fatores têm influenciado a gravidez tardia? Como essa decisão afeta na saúde da gestante e do bebê?
“Maior acesso às informações, prioridade no autocuidado, utilização de métodos contraceptivos, planejamento familiar, carreira profissional e independência financeira são alguns dos motivos de gestão e organização que levam as mulheres a postergar a primeira gestação”, elenca a ginecologista, obstetra e médica cooperada da Unimed Chapecó, Dra. Elis Margot Biasuz. Contudo, mesmo que não exista um limite crítico de idade para poder engravidar, a recomendação médica é de não aguardar para depois dos 40 anos, porque a idade traz impactos à saúde.
Para a médica, o fato da mulher se sentir mais segura com a decisão de ser mãe, ter mais vivência e convicção do que deseja, contribui para enfrentar as possíveis complicações de uma gestação após os 40 anos. E, também, favorece no sucesso com a amamentação, com os cuidados ao bebê e com adaptação da nova rotina. “Os riscos são vários nessa faixa etária, como patologias na gestação, diabetes, hipertensão, restrição de crescimento, parto prematuro, obesidade e problemas na tireoide. Além desses desafios, uma das questões mais importante é o risco aumentado de doenças genéticas nessa idade, sendo uma das mais comuns a Síndrome de Down”, esclarece.
CUIDADOS REDOBRADOS
Toda gestante 40+ é considerada de alto risco, por isso precisará redobrar os cuidados, ter um pré-natal bem assistido e exames realizados com maior frequência. “Essa paciente requer um planejamento pré-concepcional detalhado, ou seja, iniciar a suplementação de ácido fólico três meses antes de engravidar, realizar os exames de rotina, reajustar todo seu estilo de vida, praticar exercícios físicos com regularidade, optar por uma alimentação saudável e ter sono de qualidade. São rastreadas possíveis doenças como hipertensão, diabetes e doenças da tireoide para que, antes de engravidar, possam ser tratadas e controladas para ter uma gestação saudável”, antecipa a Dra. Elis.
Os exames indispensáveis durante o acompanhamento pré-natal são: sangue, urina e ultrassonografia obstétrica de acordo com cada idade gestacional. “Pela ultrassom morfológica de primeiro trimestre é possível rastrear síndromes, vermos anomalias fetais e classificarmos a gestante como de risco para pré-eclâmpsia e restrição de crescimento. Na morfológica de segundo trimestre visualizamos o bebê como um todo, desde medidas até análise de partes/órgãos e estruturas do mesmo. Além de também rastrear pré-eclâmpsia e restrição de crescimento fetal. Os demais ultrassons, também são importantes para avaliação de peso, líquido, medidas e fluxo materno-fetal. E, pelo ecocardiograma fetal temos um exame detalhado do coração”, destaca a médica ao citar os três principais exames para as gestantes.
Segundo a Dra. Elis, essas avaliações são imprescindíveis para direcionar o tratamento ao considerar os riscos para a gestante 40+ e o bebê. “Também temos alguns testes genéticos, feitos a partir da coleta de sangue da mãe, que podem verificar anomalias no feto. Com isso, fazemos um pré-natal mais cuidadoso, com acompanhamento mais próximo ao paciente e organizamos o nascimento desse bebê com toda estrutura e recursos que ele precisará. O preparo pré-nascimento dessa família auxiliará no processo de entendimento e cuidado do recém-nascido”.
A especialista evidencia que a gestante recebe todas as informações sobre as possíveis complicações ao mesmo tempo em que é confortada e tranquilizada. “Mesmo que os riscos existam e aumentem com a idade, ainda assim as estatísticas nos mostram que são baixos em relação a proporção dessa faixa etária. Sabemos que a curva de malformações começa a ascender após os 35 anos, com maior proeminência após os 40, porém, as probabilidades são pequenas”, assegura a Dra. Elis. A especialista complementa que “observamos muito mais casos de doenças genéticas em mulheres com menos de 40 anos pela proporção maior de grávidas nessa idade”.
ABALO EMOCIONAL
A gravidez tardia, segundo a Dra. Elis, tende a ser um processo mais maduro, porque ao longo da vida a mulher buscou informações e obteve conhecimento. Por outro lado, toda essa vivência traz consigo medos e inseguranças e essa consciência pode afetar o lado emocional durante a gestação. “A mulher está muito ciente dos possíveis desafios, sejam eles na concepção, durante a gravidez ou no pós-parto. Sabemos das dificuldades para engravidar nessa faixa etária, das maiores taxas de abortamento, dos riscos durante o pré-natal tanto maternos quanto fetais”, acrescenta a especialista.
Outra barreira que aos poucos é rompida é a do preconceito. De acordo com a Dra. Elis, os desafios sociais enfrentados pelas gestantes com mais de 40 anos têm diminuído ao longo dos anos, justamente, porque as mulheres estão postergando a maternidade para viver esse período com estabilidade econômica e familiar.
“Elas são donas de si, sabem o que querem e estão certas de sua decisão de engravidar, ou seja, desejam essa etapa da vida e sentem-se bem com ela. Hoje em dia é normal ver grávidas com mais de 40 anos”, esclarece.
FERTILIDADE FEMININA
A Dra. Elis explica que a fertilidade feminina começa a reduzir após os 30 anos de idade, por isso a recomendação médica é de planejar a gestação antes ou nesse período. “Os percentuais caem gradualmente e se tornam mais acentuados após os 35 e, especialmente, após os 40 anos”, aponta.
Entre as opções para quem deseja ter uma gravidez tardia está o congelamento de óvulos, o que é recomendado realizar antes dos 35 anos, segundo a médica. “Isso vale tanto para as mulheres que querem ter filhos e não tem parceiros, quanto para aquelas que não querem correr o risco de terem alguma dificuldade com seus óvulos”, complementa.
*Observação importante: Mesmo que a idade média da primeira gestação tem se elevado nas últimas décadas, o Brasil ainda é um dos países que se destaca pela gravidez precoce na adolescência. Fato que representa um problema de saúde que requer gerenciamento.