A dona de casa Adriana Salvador de Lima, 48 anos, nunca tinha tido a chance de estudar. Nascida no interior do Ceará, o contato com os livros foi substituído pelo trabalho no campo, junto à família, e, ao longo da vida, apesar do desejo de estar em sala de aula, as responsabilidades com a casa e os filhos foram prioridade. Por isso, quando ela soube que o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Samambaia Expansão teria aulas de alfabetização para adultos e idosos, não perdeu a oportunidade de realizar um sonho antigo, com papel e caneta.
“Meu sonho é saber assinar meu nome: Adriana Salvador de Lima. Quando fiquei sabendo, me animei na hora. Falei: ‘Sou a primeira da lista’! É uma chance que o GDF está dando para nós, estou muito feliz mesmo”, revela a dona de casa, que chegou no Distrito Federal aos 16 anos. As aulas começaram em 22 de julho e ocupam as tardes de segunda a sexta-feira dos novos estudantes. “Conheci outras meninas e já fiz amizades. É bom sair de casa um pouco. Eu estava quase ficando com depressão, e agora estou aqui, aprendendo.”
Colega de Adriana em sala de aula, a dona de casa Florenice Pereira dos Reis, 67, decidiu participar das aulas para aprimorar as habilidades. Ela consegue ler e escrever, mas tem dificuldade com a grafia das palavras. “Saber eu sei, mas não é muito coisa. Fiz só até a quarta série, então quero aprender mais. Não tem idade para aprender”, defende ela, que nasceu na Bahia. “Eu sou do interior e naquela época nossos pais preferiam que a gente fosse trabalhar. Mas hoje a gente vê que só quem sabe ler e escrever consegue um bom trabalho. O estudo vale muito.”
O projeto de alfabetização é fruto de uma parceria entre as secretarias de Desenvolvimento Social (Sedes), responsável por gerir o espaço, e de Educação (SEE), que desenvolve o programa DF Alfabetizado. As aulas são ministradas das 14h às 17h30 por uma educadora residente da comunidade, mobilizada pelo programa.
A gerente do Cras Samambaia Expansão, Ana Luiza Dias de França, conta que a falta de letramento da população começou a ser notada durante os atendimentos. Sem o domínio da língua portuguesa, os cidadãos podem ter dificuldade para acessar benefícios governamentais, como o DF Social, que requer a abertura de conta no banco para a retirada do auxílio financeiro mensal.
“Estamos localizados próximo a rodovias e entre os morros do Macaco e do Sabão; então, atendemos pessoas em situação de muita vulnerabilidade. Nós começamos a observar que a maioria não sabia ler nem escrever e fomos entendendo como poderíamos mudar isso”, explica a gerente. “Verificamos no cadastro quem são essas pessoas que não tem letramento e fizemos a mobilização para que participem das aulas. Agora estamos na fase de adaptação e já temos mais de 50 inscritos.”
As aulas ocorrem na Casa de Madeira, uma estrutura construída dentro do lote do Cras. É lá que a educadora Onilia Martins dos Santos ensina os princípios primordiais do português, usando como base a experiência de vida dos alunos. “Nós trabalhamos o dia a dia da pessoa. Começamos pela palavra ‘lote’, já que muitos alunos estão na luta pelo seu, e vamos caminhando. Agora, estamos na palavra ‘comida’”, elucida. “Esse método, diferentemente da alfabetização tradicional para a idade regular, desperta mais interesse neles porque começamos a conversar e eles têm a liberdade de dizer como foi a vida, de resgatar o passado.”
Os objetivos de Adriana, Florenice e outros alunos, em breve, serão alcançados, dando espaço para sonhos que só a leitura e a escrita podem criar. “É dignidade. A partir do momento que a pessoa assina o seu nome, que vai ao mercado e consegue entender o que está escrito na mercadoria que vai comprar, que vai para outra cidade e pode pegar o coletivo sabendo para onde vai, consegue ler a Bíblia, isso é dignidade”, ressalta a educadora.
Oferecer educação para a população faz parte dos objetivos do Governo do Distrito Federal (GDF). Segundo o Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Distrito Federal tem o segundo melhor índice de pessoas alfabetizadas de todo o país. Mais de 97% da população brasiliense sabe ler e escrever. O desempenho coloca a capital federal atrás apenas de Santa Catarina, com 97,3% de alfabetizados.
Saiba mais
O Cras Samambaia Expansão fica na QR 833, numa área conhecida como Portelinha ADE Oeste, e foi reaberto em 2020, após dois anos sem atendimento para a população. Ao lado da unidade, está sendo construído o segundo restaurante comunitário de Samambaia. Com investimento de R$ 7,5 milhões, a unidade terá capacidade para 384 lugares, podendo servir até 5.150 refeições por dia, sendo café da manhã, almoço e jantar de domingo a domingo.
Atualmente, o DF conta com 33 unidades do Cras, sendo que cinco delas foram abertas por esta gestão do Governo do Distrito Federal (GDF), desde agosto de 2021. Os espaços permitem intervenções socioassistenciais, sobretudo com a facilitação do acesso a benefícios e programas governamentais, como o Cartão Prato Cheio, Cartão Gás, Bolsa Família e DF Social, além dos auxílios natalidade, por morte, para pessoas em situação de vulnerabilidade temporária e em situação de desastre ou calamidade pública.
Para quem necessita de atendimento ele pode ser feito com data e horário agendados pelo telefone 156 ou pelo site da Sedes. Verifique aqui o contato e endereço de todas as unidades.
Fonte: Agência Brasília