A trajetória que levou à prisão do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”, começou muito antes da operação da Polícia Federal deflagrada em setembro de 2025. As primeiras pistas apareceram em 2024, quando jornalistas do Metrópoles investigavam o crescimento vertiginoso de associações de aposentados envolvidas em descontos indevidos em benefícios previdenciários.
O início: associações sob suspeita
Naquele ano, repórteres identificaram que entidades ligadas a aposentados e pensionistas movimentavam bilhões de reais em pouco tempo, mesmo acumulando condenações judiciais. Uma dessas associações, a Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos), estava no centro de uma disputa por sua direção. Ex-dirigentes denunciavam que atas falsificadas as haviam retirado do cargo, abrindo caminho para aliados de empresários assumirem o controle.
O papel de advogados e documentos internos
As aposentadas recorreram ao advogado Eli Cohen, conhecido por atuar em casos de fraudes financeiras. Ele apresentou à Justiça e à imprensa HDs com arquivos internos da Ambec e de outras entidades. Os documentos expunham contratos suspeitos e mostravam que parentes e funcionários do empresário Maurício Camisotti, dono do Grupo Total Health, estavam infiltrados na estrutura.
A descoberta do lobista
Nos depoimentos, um nome começou a aparecer com frequência: Antonio Carlos Camilo Antunes. Descrito como alguém que “abria portas” no INSS e conseguia listas de aposentados, Antunes era apontado como peça-chave na engrenagem. Apesar de nunca ter sido servidor do órgão, ele circulava com influência no setor, mantinha call centers, acumulava procurações para representar associações e cultivava relações próximas a servidores e políticos.
Vida de luxo e sinais de poder
Durante a apuração, os jornalistas encontraram indícios de que o lobista levava uma vida incompatível com atividades legais. Ele era dono de uma mansão em Brasília, adquiria carros de luxo anualmente — incluindo Porsches zero quilômetro — e chegou a prestar depoimento oficial por vídeo enquanto estava dentro de um veículo importado.
A primeira reportagem e a reação
Em julho de 2024, o Metrópoles publicou a reportagem que trouxe à tona o personagem até então pouco conhecido. No texto, Antunes foi identificado pelo apelido que corria nos bastidores: “Careca do INSS”. Mais do que a acusação de envolvimento em fraudes, o apelido foi o que mais o irritou. Tentou processar jornalistas alegando ofensa à honra, mas não obteve êxito. Com o tempo, a alcunha se consolidou — a ponto de constar em documentos oficiais da própria Polícia Federal.
Prisão e desdobramentos
As revelações jornalísticas abriram caminho para a Operação Sem Desconto, da PF, que rastreou movimentações financeiras entre Camisotti e Antunes. Foram identificados pagamentos milionários — só um empresário transferiu R$ 25,5 milhões ao lobista.
Na sexta-feira, 12 de setembro de 2025, Antunes acabou preso ao lado de Camisotti, acusado de liderar um dos maiores esquemas de fraudes envolvendo aposentados no país.